Certa feita, um homem de posição perguntou a Jesus o que deveria fazer
para ser salvo. Jesus o testou sobre o conhecimento que tinha dos
mandamentos de Deus, ao que ele respondeu que os cumpria integralmente
desde a sua juventude. Jesus então o mandou vender todos os seus bens e
dar o dinheiro aos pobres. Nesse ponto, aquele homem se retirou com
imensa tristeza, pois era riquíssimo (Lc 18.18-23). Era dominado pela
avareza. Mas a sua retirada revelou não só o quanto sua alma era apegada
aos bens que possuía e confiante na segurança produzida pelas riquezas,
mas também que ele queria uma salvação que estivesse subordinada aos
seus próprios esforços. Era como se dissesse: ‘Diga lá, Mestre, o que eu
tenho de fazer para ser salvo. É só dizer, qualquer coisa, que eu tiro
de letra’.
Não são poucas as pessoas que querem uma salvação que lhes custe os
maiores esforços pessoais. Esse é o caminho da religião, que diz: faça
isso, se esforce, faça por merecer. Desse modo, se for preciso escalar
uma montanha, que seja o Everest. Se for para caminhar de joelhos, que
se invente uma escadaria íngreme que dê nas nuvens. Se for para correr,
que as maratonas dobrem as distâncias. Se for para dar esmolas, que as
sobras bastem. Qualquer coisa, desde que o esforço valha a salvação!
O
general Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era um homem
assim. Ele era poderoso, mas tinha um grande problema: havia contraído
lepra. Ele tinha pouco tempo de vida e seu prestígio estava minguando.
Nisso, uma menina, criada de sua esposa, apresentou-lhe a mensagem de
que havia em Israel um profeta de Deus que podia curá-lo. Convencido
pela esposa, juntou presentes finos e muito dinheiro, e partiu ao
encontro do profeta Eliseu. A mensagem que o profeta lhe deu foi
simples: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo”.
Naamã
ficou indignado, e reclamou: “Pensava eu que ele sairia a ter comigo,
por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão
sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso”. Nisso, os seus oficiais
lhe disseram: “Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma coisa
difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse:
Lava-te e ficarás limpo”. Então, Naamã fez o que lhe dissera o profeta
de Deus e ficou totalmente curado. Depois disso, ele afirmou: “Reconheço
que em toda a terra não há Deus, senão em Israel”. (2Re 5.1-15)
Moral
da história: enquanto o profeta de Deus queria que Naamã exercesse uma
fé simples, este queria espetáculo. Mas só depois de fazer “consoante a
palavra do homem de Deus” foi que Naamã recebeu a sua purificação.
É
assim com o Evangelho de Jesus Cristo: sua mensagem é simples e
descomplicada, cuja linguagem é compreensível até mesmo às crianças. A
resposta óbvia que a mensagem do Evangelho exige de cada pessoa deve ser
imbuída de uma fé igualmente simples, mas não simplista. A experiência
nos ensina, porém, que muitos não conseguem entender que as exigências
esdrúxulas e mirabolantes, muitas vezes apresentadas como “mensagens
evangélicas”, nada têm a ver com o verdadeiro Evangelho.
Se o Evangelho fosse complicado, talvez fosse mais palatável aos
afeitos a enfrentar desafios pessoais difíceis. Se dependesse de grandes
exercícios intelectuais, talvez fosse considerado suficientemente culto
para os que se gloriam no próprio saber. Se dependesse de investimento
financeiro e pudesse ser comparado a uma apólice, talvez os ricos
estivessem dispostos a pagar grandes somas para conseguir o “seguro” das
bênçãos.
O
Evangelho tem uma marca: tudo o que tinha de ser feito para que a nossa
comunhão com Deus fosse reatada, já foi realizado por Jesus na cruz,
quando Ele mesmo disse: “Está consumado!” (Jo 19.30). Essa é a boa
notícia: “O Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê” (Rm 1.16). É o poder de Deus, não o meu próprio.
O
Evangelho é a “boa notícia” de que somos salvos pela graça. Graça é
Deus nos dar “de graça” todo o bem (a salvação é o maior bem) que nós
não merecemos. O que Deus requer de cada pessoa é a simplicidade da fé
devida ao Evangelho. A religião trabalha com crenças, com as
possibilidades humanas, com os esforços de cada um para conseguir algum
favor divino. O Evangelho trabalha a partir de uma fé simples na obra
que Jesus realizou. Fé é certeza! Fé é convicção! Certeza e convicção de
que a Salvação já está garantida por Jesus (Hb 11.1).
Infelizmente,
alguns líderes religiosos abusam da credulidade do povo. Em vez de
levarem as pessoas ao exercício de uma fé simples, complicam tudo e as
remetem aos esforços pessoais que em nada aproveitam. Bem disse o sábio
Salomão: “Tudo o que eu aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo” (Ec 7.29).
O
Evangelho de Jesus é simples, mas deveras exigente. A salvação é de
graça, mas não é barata. A porta e o caminho são estreitos e sem atalhos
(Mt 7.13,14). Tentar baratear a salvação e alargar o seu caminho só
dará em perdição. Apenas creia em Jesus e seja salvo!
Pastor da Assembleia de Deus em Belém