sexta-feira, 22 de maio de 2015

A fé e a simplicidade do Evangelho


 
 
      
      
       Certa feita, um homem de posição perguntou a Jesus o que deveria fazer para ser salvo. Jesus o testou sobre o conhecimento que tinha dos mandamentos de Deus, ao que ele respondeu que os cumpria integralmente desde a sua juventude. Jesus então o mandou vender todos os seus bens e dar o dinheiro aos pobres. Nesse ponto, aquele homem se retirou com imensa tristeza, pois era riquíssimo (Lc 18.18-23). Era dominado pela avareza. Mas a sua retirada revelou não só o quanto sua alma era apegada aos bens que possuía e confiante na segurança produzida pelas riquezas, mas também que ele queria uma salvação que estivesse subordinada aos seus próprios esforços. Era como se dissesse: ‘Diga lá, Mestre, o que eu tenho de fazer para ser salvo. É só dizer, qualquer coisa, que eu tiro de letra’.
       Não são poucas as pessoas que querem uma salvação que lhes custe os maiores esforços pessoais. Esse é o caminho da religião, que diz: faça isso, se esforce, faça por merecer. Desse modo, se for preciso escalar uma montanha, que seja o Everest. Se for para caminhar de joelhos, que se invente uma escadaria íngreme que dê nas nuvens. Se for para correr, que as maratonas dobrem as distâncias. Se for para dar esmolas, que as sobras bastem. Qualquer coisa, desde que o esforço valha a salvação!
O general Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era um homem assim. Ele era poderoso, mas tinha um grande problema: havia contraído lepra. Ele tinha pouco tempo de vida e seu prestígio estava minguando. Nisso, uma menina, criada de sua esposa, apresentou-lhe a mensagem de que havia em Israel um profeta de Deus que podia curá-lo. Convencido pela esposa, juntou presentes finos e muito dinheiro, e partiu ao encontro do profeta Eliseu. A mensagem que o profeta lhe deu foi simples: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo”.
Naamã ficou indignado, e reclamou: “Pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso”. Nisso, os seus oficiais lhe disseram: “Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma coisa difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse: Lava-te e ficarás limpo”. Então, Naamã fez o que lhe dissera o profeta de Deus e ficou totalmente curado. Depois disso, ele afirmou: “Reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel”. (2Re 5.1-15)
Moral da história: enquanto o profeta de Deus queria que Naamã exercesse uma fé simples, este queria espetáculo. Mas só depois de fazer “consoante a palavra do homem de Deus” foi que Naamã recebeu a sua purificação.
É assim com o Evangelho de Jesus Cristo: sua mensagem é simples e descomplicada, cuja linguagem é compreensível até mesmo às crianças. A resposta óbvia que a mensagem do Evangelho exige de cada pessoa deve ser imbuída de uma fé igualmente simples, mas não simplista. A experiência nos ensina, porém, que muitos não conseguem entender que as exigências esdrúxulas e mirabolantes, muitas vezes apresentadas como “mensagens evangélicas”, nada têm a ver com o verdadeiro Evangelho.
       Se o Evangelho fosse complicado, talvez fosse mais palatável aos afeitos a enfrentar desafios pessoais difíceis. Se dependesse de grandes exercícios intelectuais, talvez fosse considerado suficientemente culto para os que se gloriam no próprio saber. Se dependesse de investimento financeiro e pudesse ser comparado a uma apólice, talvez os ricos estivessem dispostos a pagar grandes somas para conseguir o “seguro” das bênçãos.
O Evangelho tem uma marca: tudo o que tinha de ser feito para que a nossa comunhão com Deus fosse reatada, já foi realizado por Jesus na cruz, quando Ele mesmo disse: “Está consumado!” (Jo 19.30). Essa é a boa notícia: “O Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). É o poder de Deus, não o meu próprio.
O Evangelho é a “boa notícia” de que somos salvos pela graça. Graça é Deus nos dar “de graça” todo o bem (a salvação é o maior bem) que nós não merecemos. O que Deus requer de cada pessoa é a simplicidade da fé devida ao Evangelho. A religião trabalha com crenças, com as possibilidades humanas, com os esforços de cada um para conseguir algum favor divino. O Evangelho trabalha a partir de uma fé simples na obra que Jesus realizou. Fé é certeza! Fé é convicção! Certeza e convicção de que a Salvação já está garantida por Jesus (Hb 11.1).
Infelizmente, alguns líderes religiosos abusam da credulidade do povo. Em vez de levarem as pessoas ao exercício de uma fé simples, complicam tudo e as remetem aos esforços pessoais que em nada aproveitam. Bem disse o sábio Salomão: “Tudo o que eu aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo” (Ec 7.29).
O Evangelho de Jesus é simples, mas deveras exigente. A salvação é de graça, mas não é barata. A porta e o caminho são estreitos e sem atalhos (Mt 7.13,14). Tentar baratear a salvação e alargar o seu caminho só dará em perdição. Apenas creia em Jesus e seja salvo!
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém